É nessa depressão que encontro refúgio. “São apenas artistas frustrados, que na bebida encontram o que a vida lhes negou” penso. Enquanto ouço no noticiário sobre a morte de mais um integrante de uma banda de heavy metal. É frio. E encontro a calma numa garrafa de vinho. Fico imaginando meu futuro, sem futilidades ou sonhos inalcançáveis, mas fico um bom tempo perdida nesse mundo. No mundo do meu futuro que não existirá. Num futuro que agora não faz sentido. Frustrada? Talvez. Cadê os objetivos que há tempos tracei? Os anos passaram, e o que restou do Eu? Ora pouco. Ora nada. Em alguns dias, nada me satisfaz. Hoje, especialmente, nada, absolutamente nada me satisfaz. Sinto-me velha, o vinho está quente e ainda não estou bêbada. Queria tê-lo perto de mim. Queria sentir seu cheiro. Queria adormecer ao seu lado. Queria brincar com o teu cabelo, e poder olhar nos teus olhos e dizer, o quanto te acho feio. Fico por um tempo, imaginando essas cenas, eu e você brincando. Sorrindo. Você dormindo na minha cama, e reclamando por minhas promessas serem sempre falsas. Por um tempo viajo nesses sentimentos passados. Estavam eles perdidos na parte mais oculta do meu inconsciente. Fui feliz. Sou feliz. Serei feliz. Mentira. Não sou feliz. Fui enquanto vivi com você. Espero que entenda como me sinto. Na verdade, não. Sei que entenderá sem precisar ler ao menos uma linha. Apenas fitando meus olhos, numa noite qualquer. Sinto tua falta. Mas não vou dar o braço a torcer. O que mais me abala é essa miséria de espírito que você possuí. Essa falta de vontade... Pra viver. Amo você, mas eu o odeio também. Pode entender? Eu o amo, você é o meu homem. Meu único homem. Mas odeio muitas coisas em você. O que mais odeio é o fato de te amar mais que a mim mesma. E não dominar esse sentimento. Continuo a abafá-lo com socos no colchão sob a minha cama, enquanto espero que você venha. Mas sei que não virá. Odeio amá-lo, e no vinho, mesmo quente é que encontro um pouco de paz. Eu só quero que entenda, sonho noites e dias, com nós dormindo, tão juntos. Assim não precisarei mais abraçar o travesseiro todas as noites. Sei que tu dormes com qualquer mulher. E daí? Não me importo. Não mesmo. Mentira. Eu só suporto. E existo, enquanto espero que bata na minha porta, me abrace apertado. Diga que me ama, e que as coisas se encaixaram. Fora o inverno, e o tempo ruim, as coisas continuam rotineiramente, sem a beleza da música clássica e sem a energia do rock’nroll. Continuo a existir. E a beber minha garrafa de vinho, que agora já está no final. Preciso de mais. Vou ter de arranjar. É domingo a noite, e estou sozinha. Preciso embriagar-me com o vinho, para esquecer.
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