quinta-feira, 25 de novembro de 2010

Escadaria para o Céu

         Enquanto corria, pude ouvir os sons emitidos pelo Lobo, sempre eufórico e agressivo. Eu precisava sair, ir lá fora, olha a Noite, mas algo me aprisionava dentro de casa, dentro de mim. Na verdade eu não queria sair, o lugar onde eu estava era mais seguro. Mais aconchegante. Mas assim mesmo, eu fui, precisava verificar se os portões estavam devidamente fechados, eu levava o Freud*, só por precaução. Então notei que a rua estava completamente vazia. Deserta. As luzes nos postes piscavam com freqüência, uma rua tão pacata. As arvorezinhas enfileiradas me lembraram um filme americano. Aquela rua, aquela cidadezinha do interior - com pose de cidade grande, mas assim mesmo provinciana - poderia ter sido cenário de um crime. E o dia seguinte poderia ser o dia que L.s não viu nascer. Nada como uma noite quente e vazia para nos encher de idéias. Fechei o portão que faltava. E, uma coisa me chamou a atenção, havia luzinhas de Natal numa das casas da vizinhança. Diabo! Eu nunca havia reparado em como elas se tornam tão irritantes numa noite vazia e quente. Aí, voltei correndo para dentro de casa, pude ouvir os latidos do Lobo, mas aqui dentro, é mais seguro!
          Precisava de um banho. A água estava quente, mas eu nem liguei. Algumas partes do meu corpo doíam, mas eu não me importava. Ao fundo, podia ouvir meu irmão tocando guitarra, ao som de Cannon Rock. A única coisa que eu sentia era o gosto de amendoim na garganta. Parece que meu organismo não reage muito bem após diversas paçocas.
           Debaixo do chuveiro, agora ouvindo apenas o som da água batendo em meu corpo e a minha profunda respiração. Pensava em arte, música e filosofia. Ah! Mal poso expressar, me senti tão feliz ao ver meu rosto espinhento e meu cabelo cacheado, porque alem disso, meus olhos, que eram pura arte, música e filosofia! Após o momento narcizista, só pensei em Kant. Pobre Kant, que fez tanto por nós e muitos só lembram que ele impossibilitou a metafísica. Mas quem se importa com metafísica e Kant, quando se pode pendurar luzinhas na janela. Malditas luzinhas. Só eu sei o quanto elas tem o poder de me irritar.

domingo, 21 de novembro de 2010

Just sometimes

Só posso sentir o frio,
E no espelho, reflete apenas a solidão.
No escuro deste quarto, só me resta o vazio.
Nada, nada além de um coração,
Um coração que insiste em continuar a bater...

Já não posso controlar,
Ouço os teus passos, e isso me angustia.
Tenho medo de ti,
Ó solidão que me confina
Vejo as tuas feições,
Mas é escura a tua retina,
E não posso evitar,
Minha pele arrepia, meu coração pulsa em imaginar,
É você que desejo, é você que procuro,
E, num instante, ouço um som que me alucina,
Vejo o vulto que me assusta,
E de repente,
Volta apenas o vazio novamente.

No escuro deste quarto, só um coração que insiste em bater.

Piece of My Heart

Eu adoro essa menina.

(Leia nas entrelinhas, olhe através dos olhos dela e você vai amá-la também)

O vento selvagem já está soprando
A dor se tornou insuportável
Um dia eu vou ter você aqui comigo
Porque eu preciso disso, e "Eu quero tentar fazer você a pessoa mais feliz do mundo"


(Escrito de um amigo, que eu realmente amo!)

Balão de Chumbo, alcool, e outras coisas mais.

E era escuro, e era frio. E lá estava eu olhando pro Nada e esperando por Ninguém. Ah, no que eu pensava? EU pensava em arte... pensava nos urubus que tinha virado arte na Bienal em São Paulo. Entende como eu me sinto? Não. Eu não sei compor, eu não sei recitar, eu não sei filosofar. Se você me perguntar sobre o que eu escrevo, lhe responderei o seguinte: “Eu escrevo sobre o Nada!” (?). Isso até se mostra como uma forma de niilismo. Mas é realmente isso. Ou não. Não! E eu estou enfatizando isso, porque de alguns textos que li hoje, dois, estavam relacionados à esse niilismo, que é exatamente o nada- e o que realmente não faz sentido. Eu pude ver a mim. Sentada na área de casa, sentindo um tremendo frio, mas sem vontade de sair dali, porque aquele momento me trouxe paz. Era escuro e não haviam estrelas no céu. Então naquele momento eu senti o abraço apertado da minha mãe. Eu senti o perfume dela, que era doce. E imaginei ela. Isso durou muito pouco, mas poderia jurar que senti o cheiro dela. Noutro momento estava eu, parada no ponto de ônibus, ao lado de muitos adolescentes, -da minha idade- que aguardavam eufóricos ou cansados o admirável Transporte Urbano, mas nenhum deles entende como eu me sinto. Pois eu não sinto nada. Só percebo que as coisas boas da vida estão se indo, e deixaram profundas marcas na minha alma. Minha melhor amiga se foi, a outra também, e a outra está se afastando cada dia mais. Esse meu momento tem até trilha sonora, que é interpretada pelo Tequila, “sinto que existe agora, uma distancia bem maior entre nos dois, maior que o inferno e o céu...” e o resto não importa. Depois, imaginei-me em casa, sentada no sofá, ouvindo Wander Wildner- as musicas dele são uma droga, mas eu gosto-, e, do nada eu pego a vassoura, e simulo que estou num show, estou no palco, e a vassoura é a minha guitarra, bato descontroladamente nas cerdas verdes, como se realmente pudesse extrair sons dessa minha guitarra. Me jogo no chão, imaginando como Steve Vai faria, e lá fico. Quando caio na real, começo a rir, como uma lunática, sem motivos. Mas de repente tudo isso se dissipa e eu estou deitada na cama, ela tem um cheiro bom. Estou abraçando um travesseiro, buscando o sono que não vem. Levanto, vou até a cozinha e pego uma garrafa de vodca, e tomo alguns goles. Minha boca amortece e volto para a cama. Fico lá, imaginando coisas. Ouço Led Zeppelin no fone de ouvidos, o volume é muito alto para uma noite silenciosa, posso até sentir meus tímpanos vibrando eloquentemente. Adormeço mesmo com o som alto. E... cá estou eu agora, sentada no chão do meu quarto, com uma perna erguida, olhando pras paredes azuis, e pro pôster dos Beatles que ocupa a minha parede. Olho pra cima da cama, e vejo o violão... me arisco a toca-lo novamente, mas sei que não sairão melodias. Posso ouvir Axl sussurrar, no meu ouvido, o som está desligado, mas ele falou, e só eu ouvi. “Vivo sempre no limite - um lugar muito, muito perigoso...” Talvez agora até meu quarto seja um lugar perigoso para mim. Mas eu vivo no limite.